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Soneto de desventura

 

De tanto te querer,
Te quis sempre, mais que a mim
E de mim quase não sobra
Espaço pro meu bem querer.

E de tanto te zelar,
Proteger, compreender e guardar,
Ai que aos prantos te vejo sentir,
Tudo que já nem ouso cogitar.

De tanto querer
Me perco no demais
Por demais.

De tanto me comprimir,
Tenho medo da ausência,
Do talvez do teu partir.

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Eclipse

                 Eu perco o chão.

                Disfarço num meio sorriso, aperto a mão direita com a esquerda. Olho pro lado.Com cuidado pra não ser descoberto, dirijo meus olhos no contorno do seu rosto. Na delicadeza do seu sorriso, eu me perco na imensidão dos teus olhos contra a luz; Eles brilharam a noite toda, ou enquanto ela durou pra mim.

                Brilharam, indecifráveis, só pra mim.

                Em cada palavra eu disfarçadamente me prendia a você. Cada encontro vocálico eu me perdia numa valsa de cores sólidas e vivas, delineando com o desejo o contorno da sua boca, ali, tão perto, tão minha…

                Como um passe de mágica;

                Segundos se tornaram horas rápido demais. O coração saltava e cantava feliz, enquanto a razão me mantinha ali, saboreando cada pedaço da sua alma, ouvindo as histórias de como você se tornou a mulher que eu tanto admirei. As horas perversas me traiam, assim como o destino de te trazer assim.
               

                Mas eu só queria ficar.

                E encontrava, em cada gesto e em cada olhar que se encontrava desajeitadamente por milésimos de segundos, a força que eu precisava pra ficar; E depois de horas em segundos, a decisão se torna fácil, incrivelmente palpável, verídica. Necessária.

                Agora, eu só queria partir.

                Partir, pra ficar. 

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Thespis, o Poeta ou coisa que o valha…

Aquele que se perde no começo da frase. Escreve uma ou duas palavras. Apaga. Rabisca dois ou três clichês. Rasga o papel. Olha em volta, fecha os olhos, sente a música. Sente seu cheiro e o toque da sua pele, escuta com a alma sua risada fácil. Abre os olhos.

Rascunha mais meia dúzia de adjetivos, um ou dois suspiros. Desiste. Olha em volta atordoado, esbarra no copo meio vazio de vinho. Um gole, outro suspiro. Aperta firme a caneta no papel, com a mesma força que desejaria te apertar contra o peito. Abaixa os olhos.

Finge.
Thespis e o Poeta.

O poeta não ama. Não pode. Não há espaço para a dúvida do amor no verso perfeito. Ele vive, sujeita-se aos caminhos dos seus sonetos mas a eles não é convidado. Espectador, sobrevivente.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
Que chega a fingir ser dor,
A dor que dela, sente.

Mais um frase, um gole e uma ampulheta cheia pela frente…

[E um pedido de perdão a Pessoa]

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Untitled²

 

 

                                                                                                                Dualidade.

                 A névoa vem timidamente tomando conta desse fim de madrugada. O meu mundo tão próximo e meu coração tão distante, minhas verdades tão concretas e minhas mentiras tão doces.
                                                                                             E meu eu tão confuso.
                Minhas histórias tão contraditórias, meus desejos tão ardentes. Minha vida tão monótona e minhas responsabilidades tão austeras. Meus verbos tão inconjugáveis e meus pronomes tão cíclicos.

                                                Retomam cada pedaço desse pretérito imperfeito.
                                                                                                                  Passageiro. 

                Um capitão sem convés e um transitivo sem complemento. Minhas mãos vazias, cheias de objetivos entalhados e notas quebradas. Cheias de escalas improvisadas e microfonias alheias, martirizando cada pedaço desse consciente sub-conscientizado.

               

                                                                                                   Um poeta dilacerado.

                Um sonhador perdido em seus próprios devaneios, um peregrino que se esquece de sua própria fé. Recoberto de mediocridade e mediações, ao som de trovões artificiais e músicas sensacionais.

                Só mais um verso, mais uma música, um cigarro e um copo de whisky barato…
                Só mais uma poesia clichê, meia dúzia de mentiras e duas ou três verdades.

 

 

[Ao som de Three years too late – The Coronas]

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Hábitos

                Dois de Novembro de dois mil e treze.Pessoas acordando cedo, correndo em direção ao cemitério onde se encontram seus entes queridos. Que coisa de doido.Não quero imaginar os meus ali, naquele lugar esquecido, fétido, úmido, desamparado. Parece algo tão mórbido, tão intimamente pravo…

                Vejo também as lágrimas comprando flores no camelô da esquina, as velas derretendo na esperança de levar os arrependimentos , as preces sussurradas desajeitadamente por conta da falta de hábito… Um dia repleto de sentimentos controversos, passageiros e capitalistas. A constância de se lembrar de quem já partiu se resume em um dia do ano.

                Pessoas pedem missa. Rezam uma ou duas vezes. Não acreditam. Não se importam.Partilham a dor ou a tornam introspectiva…

                São tantas reticências para responder que eu prefiro ficar aqui, lembrando de todos vocês que se foram, que vivem em meu coração, partilham da força da minha fé e estão me esperando longe de toda essa hipocrisia. Perversa e mortal.

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Grã-mate-cá.

Parece insônia, mas é medo.
Incerteza indivisível, projeção.
É o “que”, o “porque”, o advérbio.
A causa e conseqüência, o pretérito imperfeito.
É objetividade indireta, fenômeno.
A omissão, o estado de sítio em mim.

Parece insônia, mas é sonho.
A dúvida gostosa, o horizonte.
O adjetivo composto, a nossa, com junção.
O agente que na passiva me inconforma.
É o sentido literal e as figuras de sua língua.
É pleonasmo, contradição.

É literatura, é amor. É uma regra surreal.

Ação.
Futuro do pretérito.
Primeira pessoa do plural.

[Parece, mas não é.]Image

*Ao som de The Heart Won’t Be Denied, Colin Devlin

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Carpe Diem

 

 

Não julgo mais outrem.
Sou eu quem deriva,
Não margeio, não abstenho,
Recalculo rotas sem saber incógnitas.

Sou por mim mesmo,
Sem por que ou para que,
Vivo um dia,
Depois o outro,
Desfaço-me da agonia,
Aprendo a repartir empatia.

Não tenho medo de errar,
Ora se o erro é por si só um acerto,
Um preparo inconsciente,
Para que no momento certo,
Faça-se saber que todo o ensaio,
Valeu a pena:
A plenituda da felicidade,
É o espetáculo completo.

E os espetáculos são unicos,
A vida é unica, o momento
A chuva e o segundo…
O hoje, o perdão e a palavra.

Não, já não sou mais o mesmo.
E de longe, não quero as mesmices,
Porque o tempo hoje
Me é precioso, sagrado
Intimimamente meu.

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Splendor sine occasu

Costumo deixar de pensar.
As vezes pensar dói demais.
Outras, simplesmente cansa.
Cansa manter o ritmo, cansa ser tão “overdrive”,
Mas também cansa o marasmo, o freio e as suas variações.
Se cansa cansar?
Claro, cansa.
Costumo deixar de pensar.
As vezes dói tentar repartir migalhas.
Outras, simplesmente reparto.
Pra que com o tempo o torne mais ameno,
Parto. Sem rumo com destino certo ao incerto.
Absolvo. Parte de mim sabe a verdade,
Que é incerto o rumo dos cruzamentos,
Mas que desatino a correr pelos ladrilhos azuis,
A, sim…
Assim, rumores distantes me sussurram,
Que o vento se faz verdade a meia noite,
A hora macabra dos gatos pardos,
Das meias verdades e das meias noites em claro.

Ah, costumo pensar.
Pensar, pensar, pensar…deixar.

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Solidate

Um ano passou.

Muito rapido. Esses dias comentei sobre o ocorrido e usei o termo “meses atrás”.

Ainda é meio dificil pra mim. Acho que por todas as coisas que vivemos e tudo que você significou pra mim.

Depois do fim eu me lembro de estar sentando, quieto, exausto e acabado por dentro. Lembro dos abraços que vinham e dos ombros oferecidos. Lembro também que não era de nada daquilo que eu precisava, eu só queria ter te dito o que eu não pude…

Os dias seguiram rápido demais mas a dor não os acompanhou; Aqui tá tudo ainda tão recente e aberto. As imagens, do fim e do durante. O sorriso que se perdeu, o abraço e os dizeres.

Lembro das pizzas de mussarela, do dia do pagamento e das filas do caixa eletrônico, dos natais na sua casa. Cada vez que lembro dói mais, dói falar, dói lembrar…doi a saudade que aperta mais e mais.

Você fez aniversário mês passado. Ou faria, sei lá. Foi um dia triste pra mim sem poder te dar um abraço ou te levar uma lembrança qualquer.

As vezes sento na varanda pensando no que ficou e pra onde tudo vai. Se um dia vamos sentar próximos e conversar tudo aquilo que não conversamos.

20 anos foi muito pouco pra conviver com você; 20 anos foi o bastante pra eu te amar pra toda eternidade, daqui até a pós vida.

Eu sinto sua falta pai (vô). Todos os dias.

Gilberto Rizzo – 1940 – 2010.

 

* Ao som de Immortality – Pearl Jam.

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Vértice

 

Sou metade das minhas verdades

Na outra, sou minha mentira

Minha parte mais dolorosa,

Aguda, penetrante, fatal…

Sou metade das minhas virtudes

Na outra, sou meu defeito

Meus vícios e meus pecados,

Obscuros, irracionais, obscenos…

E das metades, nem sei quem sou

Se sou verdade ou mentira,

Virtude ou vício

Das metades, mal sei qual

Prevalece, intitula-me

Ou rasga-me e sobrepõe.

 * Ao som de “Love is a losing game” – Amy Winehouse.

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